Depois do encontro da cantina e da agradável conversa que mantiveram durante esse dia, tornaram-se inseparáveis. Eram os dois únicos portugueses do curso de História das Artes e, embora não estivessem no mesmo ano, conseguiam passar muito tempo juntos. Tinham algumas disciplinas em comum devido ao facto de ter havido uma reformulação recente do curso e para além disso, esperavam sempre um pelo outro para almoçarem na cantina.
Aos fins-de-semana Maria ia-lhe mostrando a cidade de Londres. As cidades têm sempre algo de diferente quando se passa a viver nelas. Rodrigo estava em Londres há muito pouco tempo e sentia-se ainda um turista. Nunca tinha estado numa cidade tão grande e com tanta coisa para ver e fazer. Maria já estava em Londres há dois anos e conhecia muito bem a cidade. Desde cedo foi habituada pelo pai a percorrer sozinha as ruas de Lisboa e a utilizar os transportes públicos para ir e vir do colégio e isso tinha sido muito útil nas viagens que já tinha feito sozinha e também aquando da sua mudança para Londres.
Para Rodrigo os passeios de fim-de-semana eram muito especiais. Nascera em Évora e quase não tinha viajado. Tinha agora dezoito anos e estava a viver em Londres, coisa que nunca lhe tinha passado pela cabeça até ao dia em que o pai lhe comunicou que a Tia Rosinda tinha falecido e que lhe tinha deixado todos os seu bens em herança. Rodrigo ficou atónito com a situação. Gostava muito da Tia Rosinda, mas nunca tinha pensado que a sua herança lhe fosse destinada.
Nesse mesmo dia decidiu que usaria parte do dinheiro da herança nos seus estudos. Aos 17 anos, Rodrigo era um rapaz com uma maturidade fora do que era comum nos jovens da sua idade. 'Pai, gostaria de ter a sua permissão para ir estudar para Londres, História da Arte, como era o desejo da Tia Rosinda'. O pai nem queria acreditar que o seu filho ia partir para tão longe. Não tinha, no entanto, forma de o impedir, o rapaz estava decidido e capacidades não lhe faltavam.
E foi assim que Rodrigo logo depois de completar dezoito anos concorreu como aluno estrangeiro à "University of the Arts" e se viu, passados uns meses, a viver na cidade de Londres.
Os primeiros dias não tinham sido nada fáceis. Conseguira um quarto numa das muitas residências de estudantes de Londres, mas teve alguma dificuldade em integrar-se no novo ambiente. Faltavam-lhe os mimos e a comida da mãe e os seus amigos do colégio de Évora.
A nova amiga Maria apareceu mesmo na altura certa. Era portuguesa, bonita, muito simpática e já conhecia muito bem a cidade. Rodrigo sentiu-se um príncipe. Maria parecia ter saído de um conto de fadas.
Seguiram-se meses de muito agradáveis em que os dois partilharam momentos de grande cumplicidade. Maria de uma forma mais natural e desprendida. Rodrigo de forma mais apaixonada. Ansiava pelos momentos em que estava com Maria, fazia tudo para lhe agradar. Inventava passeios em Hide Park e surpreendia-a com um piquenique, comprava bilhetes para a ópera no Covent Garden, para exposições na Tate Gallery e tantas outras actividades.
Maria achava-lhe muita graça. Rodrigo era para ela o melhor amigo que alguma vez tinha tido. Gostava de ser surpreendida pela ingenuidade dele e ria-se com o seu sotaque alentejano.
A diferença de sentimentos entre os dois começou a ser nítida. Para Maria, Rodrigo era o seu melhor amigo e a pessoa em que mais confiava. Para Rodrigo, Maria era muito mais do que isso. Era a sua princesa, a mulher da sua vida. Estava apaixonado por ela.