segunda-feira, 13 de abril de 2009

2 - Fugi (IV)

- Maria, podes ficar aqui o tempo que quiseres. A casa não é muito grande, mas dá perfeitamente para nós os dois.
- Obrigada, mas vai ser só por esta noite. Eu...
- Tu ficas o tempo que quiseres. Tens dinheiro?
Maria olha para Rodrigo e as lágrimas invadem-lhe novamente o rosto.
- Não Rodrigo, não tenho nada. Paguei a viagem para aqui com o cartão de crédito do Bernardo. Tenho algum dinheiro no banco, que dará para eu sobreviver em Paris por uns tempos. Depois só me resta a parte da herança do meu pai. Com os impedimentos que a minha mãe e a minha irmã estão a levantar, passarão uns bons tempos sem que receba um cêntimo desse dinheiro.
- Compreendo... - diz Rodrigo paternalmente, olhando o rosto daquela mulher que sempre quis para si - Mas agora vamos dormir. Já está a ficar tarde e deves ter tido um dia cansativo. Vais dormir no meu quarto e eu vou ficar no sofá do escritório.
- Só te estou a incomodar. Amanhã partirei...
Rodrigo dirige ao quarto para preparar a cama e Maria apercebe-se de que, com tanta emoção, nem tinha reparado como era o apartamento do seu amigo. Estava nas águas-furtadas de um edifício da Avenue Sufrren, mesmo ao lado da Torre Eiffel. A sala onde se encontrava era ampla e com duas janelas que, para águas-furtadas, eram de tamanho bastante generoso. De uma dessas janelas via-se claramente a Torre totalmente iluminada. -"Um privilégio, viver ver num local destes" - pensa. A sala tem um decoração minimalista, mas com bom-gosto. Estes são dois dos aspectos que sempre caracterizaram Rodrigo. O sofá em que Maria se sentou é confortável e está na melhor posição da sala, mesmo em frente à janela por onde as luzes da cidade se podem ver até uma distância bastante considerável. Em primeiro plano, as luzes da Torre mesmo ali em frente.
- Gostas da sala?
- Oh Rodrigo! Como é possível não gostar? Imagino que a vista que tens sobre a cidade te sirva de inspiração para os teus livros... É verdade! Tens escrito muito? Publicas em francês? Parece impossível que nos tenhamos afastado tanto. Não sei quase nada de ti. Desapareceste...
- Não desapareci. Precisei de me afastar de ti, de Lisboa, de Portugal. Mas falamos de tudo isso noutra altura. Preparei-te um banho bem quente. A casa de banho é mesmo aqui na direcção do quarto. A cama está feita. Deita-te e dorme. Boa noite Maria.
- Sinto mesmo que te estou a incomodar, Rodrigo. Não era nada esta a minha intenção. Desculpa!
- Os amigos nunca nos incomodam. Preocupam-nos e, às vezes, entristecem-nos. Mas não nos incomodam.
- Tens razão. E eu até estou mesmo a precisar de um banho. - As dizer esta palavras, Maria esboça finalmente um sorriso. - Boa noite Rodrigo...