sexta-feira, 15 de agosto de 2008

2 - Fugi... (I)

Mecânicamente, Maria segue os outros passageiros até ao terminal de recolha de bagagem.

Enquanto esperava pela sua mala, uma voz a chama:
-...Maria
Vira-se e...
-Rodrigo! Que fazes aqui?-pergunta, admirada.
-Eu, é que pergunto o que fazes aqui. Eu vivo em Paris há muito tempo, já te esqueceste?
-Pois é, que pergunta! Eu? ...eu fugi!
-Fugiste?!
-Sim fugi...-respondeu com uma voz distante.
-Mas de quem?.. de quê?
-De ninguém! Fugi...
Ao olhar para a cara de confuso de Rodrigo e antes que ele fizesse mais perguntas, continuou:
-... fugi do passado...
Aquela resposta fê-la como que acordar. Sim, só podia fugir do passado! As pessoas, essas já há muito tinham 'fugido' dela! Amigos, família...
-Maria, estás-me a ouvir? Que se passa?
-Sim,-respondeu, pestanejando com força, como que apagando a imagem que se ia formando na sua mente-estou a ouvir-te! Mas que foste fazer a Portugal? Foste de férias?
-Maria, que se passa? Estás pálida!
-Não é nada, fico sempre assim quando voo... é de estar muito tempo parada!
A sua mala surge no tapete, como que a salvando de mais explicações:
-A minha mala!-exclama com uma satisfação forçada. E continua, enquanto pega na mala:
-Gostei muito de te ver, mas agora estou com pressa, já estou atrasada. Vemo-nos por aí! Paris é grande, mas o Mundo é pequeno!-Remata com um sorriso nervoso e, sem dar qualquer hipótese a Rodrigo, dá-lhe dois beijos, e quase em passo de corrida, dirigiu-se para a porta... como que a fugir!
Chegou ao terminal de táxis, dirigiu-se para a fila à espera da sua vez.

Enquanto esperava, recordava o episódio com Rodrigo.
Mas que se passava com ela? Mais uma vez a fugir, em menos de vinte e quatro horas tinha sido brusca com as pessoas... tudo o que ela, a Maria, não era!
Chegou o táxi, entrou e lembrou-se então que não tinha para onde ir!
Oh, meu Deus, que faço agora? Olha para o taxista que aguarda pela resposta que ela não tem e diz:
-Torre Eiffel, s'il vous plait.
-Oui Madame.

Na memória tinha agora o encontro com Rodrigo. Não pela pessoa, mas pela atitude dela! O Rodrigo era um amigo de longa data. Já não o via há muito tempo... desde solteira, provavelmente, mas era um bom amigo, daqueles que quando os encontramos depois de muito tempo, temos a sensação que não nos vimos desde o dia anterior!
Como ele se apercebeu que ela não estava bem!
Mas o que se passa comigo? -pergunta a si própria baixinho ao mesmo tempo que olha pela janela e se apercebe que já percorreu metade do caminho.

E agora?