A avó Maria das Dores, mulher mais sisuda e menos dada a manifestações de afecto, tinha sido um exemplo de mulher para Maria. A vitalidade com que comandava os trabalhos da grande casa da quinta e a dedicação e respeito que tinha ao seu marido sempre a tinham impressionado. Maria recorda as lágrimas daquela mulher no dia em que o avô Sebastião morreu. Desde esse dia Maria das Dores nunca mais fora vista a chorar.
Outros tempos... pensa Maria ao olhar pela última vez para aquele espaço a que chamou quarto, para aquela casa a que chamou lar durante quase 12 anos. Não era uma mulher como a Maria das Dores que ali estava.
Com lágrimas nos olhos percorre todas as divisões da casa. Recorda momentos bons e momentos muito maus ali passados. Despede-se dolorosamente.
- Se estou livre, porque não me sinto feliz? - pensa.
A pequena mala está pronta. Maria prepara-se para sair dali. Vai para Paris uns tempos, ao menos lá estará longe de tudo e de todos.
A campainha toca. Maria acha estranho, uma vez que combinara com o ex-marido que estaria ali até as cinco e meia e são apenas cinco horas.
Com o coração aos saltos, precipita-se para a porta de entrada.