domingo, 21 de junho de 2009

5 - Lisboa início de 1997 (VI)

'Senhor Alfredo Gomes, se é que é este o seu nome, deixe-me, ao menos fazer-lhe um pedido, para sair desta situação com alguma honra' – diz Bernardo, tentando sair da situação o melhor que podia.
'Então o nosso Dr. é um homem de honra!' – responde Alfredo ironicamente. - 'Pois muito bem, diga lá qual é a sua condição, ou melhor, qual é o seu pedido.'
Neste momento, o jovem advogado só conseguia pensar no seu emprego. Afinal de contas, era isso que estava em jogo. Se o Alfredo enviasse algumas daquelas fotografias para o António Augusto, a sua carreira estaria arruinada. Tinha também certeza que se tal acontecesse, não conseguiria emprego em nenhum dos escritórios de advogados de Lisboa, uma vez que António Augusto certamente falaria com todos os seu amigos e conhecidos. Estava, por isso, decidido a fazer qualquer coisa para salvar o seu emprego e a sua reputação como advogado. Venderia a alma ao diabo se fosse necessário, mas tinha que manter-se na Viera de Abrantes.
'Faço tudo o que pretender, mas não mostre em caso algum estas fotografias ao Dr. Vieira de Abrantes nem à esposa.'
'Bernardo, Bernardo! Não precisa de dramatizar. Sejamos práticos. Nem eu, nem a organização a que pertenço temos qualquer interesse em que deixe de trabalhar na Vieira de Abrantes Associados. Isso é bom para sim e também é bom para nós. Porque é que acha que o escolhemos?'
'Confesso-lhe que não faço a mínima ideia da razão de me escolherem e também não sei para o que me escolheram. Que organização é essa de que tanto fala?'
Alfredo ri-se e olha para Bernardo com um ar de superioridade.
'Então o Dr. acha que eu lhe vou facilitar informação sobre a organização? Para já deve saber apenas o que lhe disse quando o encontrei pela primeira vez: a sede é na Suíça e vai ser o nosso contacto em Portugal.'
'Mas que tipo de trabalho querem que eu faça? Embora tenha alguns conhecimentos sobre pintura e pintores, não tenho qualquer actividade profissional ligada às artes e muito menos contactos com o meio artístico português. Isto a não ser, que considerem as festas a que vou com a Beatriz eventos culturais.'
'A informação que tem é suficiente por agora. A única coisa que preciso saber é se aceita ou não colaborar connosco.'
'Penso que já respondi à sua pergunta. Aliás, não me resta qualquer alternativa.' - responde Bernardo com um olhar de aflição de quem não faz a mínima ideia de onde se está a meter.
'Muito bem Bernardo, a nossa conversa acaba por aqui. Aguarde notícias nossas.'
'Mas como vos posso contactar?'
'Não precisa de nos contactar. Aguarde simplesmente instruções da nossa parte. E já agora, penso que não é necessário alertá-lo para o facto de que deve manter sigilo sobre a sua entrada para a organização...'
'Sim claro, esteja descansado.'
'Tenha um bom dia e muito obrigado pelo café.'
Dizendo isto, Alfredo levantou-se e saiu. Bernardo que tinha estado de pé durante toda a conversa, atirou-se para cima da sua cadeira quase sem forças. Nunca tinha enfrentado uma situação destas. Uma série de perguntas surgiam na sua cabeça. Perguntas às quais não sabia como responder.
Tentou acalmar-se e analisar os prós e contras da situação. Embora com muitas dúvidas sobre as actividades que iria desenvolver para a dita organização suíça, havia algo que o deixava um pouco mais tranquilo. O dinheiro que lhe pagariam faria com que as suas dívidas diminuíssem, podendo pagar ao banco e a Beatriz. A ideia de dever dinheiro à sua amante incomodava-o muitíssimo. Não suportava depender de uma mulher. Para além disso, talvez o trabalho a realizar não fosse nada de especial e não influenciasse em nada a sua carreira de advogado na Vieira de Abrantes. Fez um esforço para pensar de forma positiva em toda a situação. Teria que esperar por desenvolvimentos e, por isso, nada iria fazer de concreto. Aliás, não poderia mudar em nada as suas atitudes para não levantar suspeitas. António Augusto era fácil de enganar, mas Beatriz começava a conhecê-lo muito bem, e qualquer mudança de atitude da sua parte seria imediatamente por ela identificada e levaria a perguntas inconvenientes.
Ao pensar em Beatriz, lembrou-se que nesse mesmo dia tinha um jantar em casa dela. Há já muito tempo que não ia a casa dos Vieira de Abrantes devido à sua situação com Beatriz. Evitava sempre ter que encarar António Augusto num ambiente mais familiar. Embora ele fosse uma pessoa distante e pouco dada a demonstrações sentimentais, Bernardo sentia-se sempre um pouco intimidado quando tinha que estar simultaneamente com ele e com Beatriz. O olhar de António Augusto parecia-lhe sempre reprovador como que a dar-lhe a entender que sabia de tudo o que se passava entre ele e a mulher. De qualquer forma, este jantar até seria um bom pretexto para não ter que encarar Beatriz sozinha hoje. Embora estivesse um pouco mais tranquilo relativamente ao assunto de Alfredo Gomes e da sua organização, tinha receio que ela lhe notasse algo de estranho num olhar ou em qualquer coisa que dissesse. No jantar iam estar mais convidados uma vez que o casal Vieira de Abrantes celebrava o regresso a casa da sua filha mais velha, Maria, que estivera a estudar em Londres.
Beatriz já lhe tinha falado alguma vezes de Maria, dando-lhe sempre a entender que o relacionamento entre as duas não seria dos melhores. Maria era muito parecida com o pai e nada dada ao estilo de vida que a mãe levava. Desde há um ano e meio atrás que as preocupações de Beatriz com a filha tinham aumentado substancialmente, uma vez que, sem qualquer aviso prévio, a jovem estudante de História das Artes comunicou aos pais que se tinha mudado para casa do namorado, um tal Mike, que era guitarrista numa banda rock que actuava em bares nos subúrbios de Londres. Beatriz e António Augusto ficaram em pânico com a situação, mas pouco ou nada puderam fazer, a não ser tentar convencer Maria de que um músico de uma banda de rock londrina não era homem para ela. Este tipo de atitude dos pais fez com que o romance durasse ainda mais tempo.
A Beatriz tinha-lhe contado com muito mais pormenor a história do romance de Maria com Mike, mas Bernardo nunca se tinha interessado particularmente por isso. Aliás, ultimamente não eram raras as vezes em que Beatriz falava com ele sobre determinado assunto e ele acabava por ser perder noutros pensamentos. Lembrava-se, no entanto, de ela lhe ter comentado que o romance tinha terminado abruptamente quando Mike tinha decidido partir para os Estados Unidos a pretexto de um convite para integrar uma nova banda. Maria tinha ficado destroçada e resolvera que voltaria para Portugal assim que terminasse os seus estudos.
Assim tinha acontecido há três dias atrás para alegria de António Augusto e alívio de Beatriz. Maria voltara definitivamente para viver em Lisboa em casa dos pais e para celebrar este regresso, os Vieira de Abrantes resolveram organizar uma festa em sua casa que seria uma óptima oportunidade para mostrarem aos seus amigos e conhecidos que Maria voltara livre e desimpedida.
Quando Beatriz lhe disse que a filha ia voltar e que estava a organizar uma festa para assinalar o seu regresso, Bernardo não demonstrou qualquer interesse. Já conhecia uma das filhas do casal Vieira de Abrantes, a Toninha, e isso não o deixava muito à vontade, uma vez que era pouco mais velho que ela. O facto de ser amante de uma mulher que tinha idade para ser sua mãe tornava-se constrangedor para ele neste tipo de situações.
Perdeu-se nestes pensamentos e dedicou o resto do dia a rever uns processos que necessitavam a sua intervenção urgente. Como sempre, o trabalho estava para Bernardo à frente de todos os seus assuntos pessoais, incluindo o caso que mantinha com Beatriz já quase há dois anos.
No final da tarde passou no seu apartamento para se preparar para a festa em casa de Beatriz. Continuava sem a mínima vontade de comparecer, mas sabia que tinha obrigatoriamente que o fazer. Não teria como desculpar-se com Beatriz e o facto de não comparecer poderia aumentar ainda mais as suspeitas que todos tinham sobre o seu romance proibido.
Depois de esperar algum tempo para não ser dos primeiros convidados a chegar, Bernardo sai de casa mais com a sensação de que ia para um funeral do que para uma festa. O dia já tinha sido fértil em acontecimentos estranhos e só esperava que nada de errado acontecesse em casa dos Vieira de Abrantes.
Foi Beatriz quem lhe abriu a porta e ao vê-lo, suspeitou imediatamente que algo se passava.
'Bernardo eu disse-lhe que a festa era de cerimónia. Como é que não vem de smoking?'
Tinha-se esquecido completamente que a festa exigia smoking, coisa que nunca lhe acontecia.
'Esqueci-me Beatriz. Vou a casa trocar-me...' - disse tentando agir com naturalidade.
'Não vai nada, agora que já está aqui fique como está. Aliás, eu estava à espera que não chegasse tão tarde. Já estão quase todos aqui. O que é que se passou? Não está com boa cara.'
Beatriz, perspicaz como sempre, tinha notado que algo se passava e ia inundá-lo com perguntas.
'Entre, vamos para a sala. Não podemos ficar aqui muito tempo a conversar. De qualquer forma vai ter que me dizer o que se passa consigo.'
O facto de não poderem ficar muito tempo a conversar, livrou Bernardo de uma explicação imediata. No decorrer da festa lembrar-se-ia de uma desculpa para se justificar. Não conseguia perdoar-se pelo facto de se ter esquecido de vestir o smoking.
Após este cumprimento inicial, Beatriz e Bernardo separaram-se para manter aparências.
A casa estava cheia de gente. Beatriz esmerava-se sempre nas festas de sua casa e tudo era supervisionado até ao mais ínfimo pormenor, desde um talher numa mesa, até um arranjo de flores ou uma vela no jardim. O ambiente estava na realidade muito agradável mas Bernardo não se sentia particularmente à vontade uma vez que, estando de fato e gravata, chamava a si todas as atenções. Sentia-se observado e criticado especialmente pelas mulheres. Felizmente encontrou um grupo de conhecidos com que tinha suficiente à-vontade para dizer que se tinha esquecido que a festa era de cerimónia e, por isso, estava naqueles preparos. Dois gin-tónicos depois e já todos riam da situação.
A homenageada não tinha dado, até aquele momento, o ar da sua graça na festa. Os Vieira de Abrantes já estavam todos presentes, excepto Maria, e os convidados já começavam a perguntar por ela, o que estava a deixar Beatriz visivelmente ansiosa. Ao cruzar olhares com Bernardo, conseguiu fazer-lhe sinal para que a seguisse discretamente. Encontraram-se ao fundo do jardim, sem que tivessem dado muito nas vistas.
'Está tudo a correr mal. Começando por si Bernardo que nem se lembrou do smoking, e acabando na Maria que deve ver estar metida no quarto a fazer tempo para não descer só para me deixar nervosa.' - diz Beatriz num tom visivelmente perturbado.
'Tenha calma Beatriz. Não estamos aqui há tanto tempo assim.'
'Vê-se mesmo que não conhece ainda a Maria. Ela é exactamente igual ao pai, faz tudo para me contrariar. Acha que lhe agradou o facto de eu lhe preparar esta festa de boas vindas? Claro que não. Achou uma coisa perfeitamente desnecessária e sem sentido. E o pior de tudo é que o António Augusto se colocou imediatamente do lado dela e acabou por dizer que eu só penso em festas que não têm utilidade nenhuma.'
'Mas se a Maria não queria a festa porque é que insistiu?'
Ao ouvir estas palavras de Bernardo, Beatriz ficou vermelha de raiva.
'Até você? Agora até você está do lado da Maria e do seu paizinho.'
'Não é nada disso, Beatriz. A questão é que evitaria estar nesse estado de nervos se tivesse respeitado a vontade da sua filha. Afinal foi ela quem regressou a casa e deveria ter sido ela a decidir se se faria uma festa de comemoração do regresso ou não.'
'São todos iguais. Depois de tanto trabalho, na organização da festa, é este o agradecimento que me dão.'
Estavam ambos nesta discussão sem sentido quando ouviram todos os convidados a bater palmas. Maria que acabara de descer para se juntar à festa.
Ao ouvir as palmas, Beatriz despede-se apressadamente de Bernardo para se dirigir ao interior da casa e receber Maria na festa. Para não dar muito nas vistas, Bernardo permaneceu no local em que se encontrava durante mais algum tempo. Desde que era amante de Beatriz, estava habituado a fazer estes compassos de espera para não levantar suspeitas. Sabia que muitas vezes eram exagerados, mas não podia correr o risco de ser descoberto por António Augusto.
Ao entrar em casa, Beatriz encontra Maria já a conversar com alguns dos seus amigos mais chegados, mas, para seu espanto, a filha veste umas calças de ganga azuis já bastante usadas e uma blusa branca de um simplicidade atroz. 'Como pôde ela fazer-me uma coisa destas. Como pode aparecer vestida daquela maneira, quando lhe ofereci um vestido lindíssimo para vestir esta noite.' - pensou Beatriz.
Havia, no entanto, que manter as aparências e Beatriz era exímia em fazê-lo. Dirigiu-se a Maria e disse-lhe em voz alta para que todos ouvissem:
'Ainda bem que já desceu minha querida. Queria dizer-lhe a si e a todos, que eu, o seu pai e a Toninha estamos muito felizes por tê-la de volta a casa. A festa é para si. Divirta-se.'
'Obrigado mãe. Tenho a certeza que a festa vai ser óptima. Tu és óptima a organizar estas coisas.' - diz Maria num tom de ironia que não convence ninguém.
Todos os presentes tinham conhecimento do mau relacionamento entre Maria e Beatriz. Aliás, o facto de Beatriz ter organizado uma festa para a filha com tanto empenho e dedicação era estranho para todos. Muitos tinham adiado outros compromissos para estarem presentes em tão estranha reunião entre mãe e filha. Maria estava já a corresponder às expectativas dos que afirmavam que as coisas não iriam correr muito bem, uma vez que tinha optado por escolher uma roupa tudo menos apropriada para a ocasião.
Não era o facto de ter vestido umas simples calças de ganga com uma camisola branca que atenuava a beleza de Maria na sua festa. Era uma mulher muito bonita, com uma presença muito especial e mesmo que não vestisse apropriadamente para a ocasião conseguia, tal como a mãe, atrair para si todas as atenções. Para além disso, herdara do pai uma tenacidade e inteligência invulgares, que conjugadas com um espírito crítico acutilante, faziam de si uma pessoa verdadeiramente interessante e fora do comum.
Bernardo, que tinha ficado no jardim depois de ter falado com Beatriz, não tinha ainda sido apresentado a Maria e nem sequer a tinha visto. Continuava sem grande vontade de privar com mais uma filha da sua amante e deixou-se ficar a conversar com um grupo de seus conhecidos junto à piscina.
Depois de conversar longamente com um casal amigo, Maria decide ir ao jardim para cumprimentar o resto dos convidados. Sentia-se agora mais descontraída depois de ter bebido dois whisky e de ter conversado com grande parte dos seus amigos de sempre. Neste aspecto, Beatriz não tinha falhado, convidara todos os amigos da filha, mesmo aqueles de que não gostava e que raramente iam lá a casa.
À volta da piscina encontravam-se inúmeros convidados pois, embora fosse ainda inverno, a noite estava muito amena e os aquecedores de exterior faziam maravilhas. Maria deambulou por ali, cumprimentando todos, falando da sua experiência em Londres e dos seus planos para o futuro. Todos sabiam do seu relacionamento com Mike e da forma intempestiva como tinha terminado, mas este assunto não era abordado.
Ao dirigir-se ao grupo onde se encontrava Bernardo, Maria um pouco inebriada por mais um whisky que acabara de tomar, tropeça numa das mesas de apoio e em desequilíbrio tenta apoiar-se em Bernardo que não conseguindo ampará-la se deixa cair para trás. Perante o olhar perplexo de todos, os dois jovens acabam dentro da piscina.
Enquanto Bernardo tenta recuperar o fôlego e refazer-se do susto, Maria consegue segurar-se na borda da piscina e começa a rir-se desalmadamente.
Ao vê-la rir, Bernardo irritou-se.
'Veja por onde anda. Está bêbeda?'
'Sim, estou bêbeda e não vejo mesmo por onde ando.' - disse Maria rindo às gargalhadas. - 'Sei que neste momento estou na piscina contigo e aproveito para me apresentar. Maria Vieira de Abrantes.'
Ao ouvir o nome de Maria, Bernardo ficou sem palavras. Este era um dia em que não paravam de acontecer coisas estranhas.
'O meu nome é Bernardo Homem de Sousa e trabalho com o seu pai. As minhas desculpas se fui indelicado consigo, mas cair dentro da piscina não é coisa que se possa considerar agradável, mais a mais no Inverno.'
'Então tu é que és o Bernardo de que já me tinha falado do meu pai. Penso que nos podemos tratar por tu, afinal somos quase da mesma idade.'
'Claro que nos podemos tratar por tu. Desculpa os meus formalismos, mas na minha profissão são sempre necessários. Já agora, o teu pai falou-te de mim porquê?'
'Porque tu és um dos melhores advogados da firma, só isso.'
Bernardo sentiu-se bem, por ter sido elogiado por António Augusto.
'Para mim é uma honra trabalhar com um dos melhores advogados de Lisboa' – disse.
'Deixa-te lá de elogios ao meu pai e vamos mas é sair daqui. Estou a ficar gelada e a minha mãe não tarda aí para fazer um escândalo.'
Bernardo, que também já estava a ficar completamente gelado, acedeu de imediato ao pedido de Maria.
'Vem comigo, vamos ali à casa de apoio à piscina. Deve haver lá toalhas, que podemos usar para nos limparmos.' - disse Maria, pegando-lhe na mão e começando a correr.
Passaram pelos convidados, molhados até aos ossos e conseguiram chegar à casa de apoio sem serem vistos Beatriz.
'Cá estão as tolhas! Tira umas poucas e limpa-te.'
Bernardo estava a ficar constrangido. Para se limpar teria que se despir e não o poderia fazer em frente a Maria. Além disso, como iria fazer com o fato que estava completamente encharcado. Não adivinhava boas perspectivas para sair airosamente daquela situação sem que Beatriz soubesse. Preocupado com o que fazer, nem reparou que Maria já se tinha tinha tirado as calças e a camisola e que estava ao seu lado apenas com a roupa interior.
'Então? Não tiras a roupa?'
Ao vê-la, Bernardo desviou o olhar em sinal de respeito.
'Não me digas que nunca viste uma mulher em roupa interior.' - Diz Maria atrevidamente enquanto se embrulha numa toalha.
'Claro que sim.' - diz Bernardo envergonhadamente.
'Está bem, já percebi. Tira a roupa e embrulha-te numa toalha enquanto eu vou ao meu quarto vestir outra roupa e te trago um dos smokings do meu pai.'
Sem dizer mais nada Maria retira-se.
Bernardo despiu-se e limpou-se a uma das tolhas e ficou a aguardar.
Maria regressa uns vinte minutos depois. Vestia um vestido vermelho que impressionou Bernardo. O jovem advogado não tinha ainda tido tempo de apreciar a beleza da filha de António Augusto. Conhecera-a apenas há uns momentos atrás e já tanta coisa tinha acontecido.
'Consegui um smoking do meu pai, que te deve servir. Mas não encontrei uns sapatos. Vais ter que usar os teus mesmo molhados.'
'Estás linda com esse vestido! - Disse Bernardo involuntariamente.
'Esta não ocasião para piropos Dr. Bernardo. Veste-te, porque temos que voltar para a festa. Porque não vieste de smoking? A minha mãe deve ter ficado chocada.'
'Essa é uma longa história que agora não tenho tempo de te contar.'
'Está bem. Eu vou andando. Vemo-nos por aí.' - desse Maria afastando-se.'
'Obrigado por me teres salvo.'
'Obrigado por teres sido solidário ao caíres comigo na piscina.'
Bernardo não conseguiu deixar de sorrir. Ao vestir o smoking para voltar à festa pensava no seu dia. O encontro com Alfredo, as fotografias com Beatriz, o facto de se ter esquecido de vestir um smoking para a festa e a queda na piscina com Maria eram acontecimentos completamente fora do comum.
Estava quase a terminar de se vestir quando ouviu alguém entrar. Ao princípio pensou ser Maria que voltara, mas depressa verificou que era um vulto masculino.
'Boa noite Bernardo. Gostaste de conhecer a menina do Vieira de Abrantes?'
Reconheceu imediatamente a voz de Alfredo.
'O que é que você está aqui a fazer? Como conseguiu entrar?'
'Eu entro onde quero e tu não te tens que preocupar com isso. Estou aqui apenas para te dizer que o teu primeiro trabalho é aproximares-te da Maria e ganhares a confiança dela. E agora regressa para a festa e diverte-te.'